domingo, 14 de dezembro de 2008

Evolucionismo e Fixismo

Quando o Homem se começou a dar conta dos seres vivos que o rodeavam, tornou-se necessário explicar o aparecimento destes, bem como o seu próprio aparecimento. Foi então que surgiram algumas teorias cujo objectivo era explicar o surgimento e desenvolvimento das espécies vivas.
Como se sabe, segundo algumas crenças, existe uma ou várias entidades todo-poderosas responsáveis pela criação de tudo o que conhecemos.

Estas crenças, bem como a aparente ideia de que os animais, geração após geração, permanecem imutáveis, levaram ao aparecimento do princípio, que durante muitas centenas de anos foi tido como certo, de que a entidade toda poderosa era perfeita, pelo que tudo o que criava teria de ser perfeito também.
Assim, surgiu a teoria fixista:

Fixismo:

Teoria que pretende explicar o surgimento das espécies, afirmando que estas surgiram sobre a Terra, cada qual já adaptada ao ambiente onde foi criada, pelo que, uma vez que não havia necessidade de mudanças, as espécies permaneciam imutáveis desde o momento em que surgiram. Deste modo, e de acordo com esta teoria, não haveria um antepassado comum. No entanto, para a explicação do surgimento das espécies primordiais há várias opiniões:
- Anaximandro (611-546 a.C.): Este autor considerava que os primeiros animais surgiram de uma "vasa marinha" a partir da qual surgiram todos os outros animais; o Homem teria surgido do ventre dos peixes.

Deste modo, desenvolveram-se dentro do fixismo outras teorias que pretendiam explicar o surgimento das espécies:

  • Geração espontânea:
    Segundo Aristóteles, autor desta teoria, e influenciado pela teoria platónica da existência de um mundo das imagens, afirmava que as espécies surgem por geração espontânea, ou seja, existiam diversas fórmulas que dariam origem às diferentes espécies.
    Isto é, segundo ele, os organismos podem surgir a partir de uma massa inerte segundo um princípio activo. (Por exemplo, nascer um rato da combinação de uma camisa suja e de um pouco de milho).
    A geração espontânea permaneceu como ideia principal do surgimento das espécies devido à influência que as crenças religiosas incutiam na civilização ocidental, principalmente.
  • Criacionismo:
    O criacionismo era visto por teólogos e filósofos de modos diferentes: os teólogos afirmavam que Deus, o ser supremo e perfeito, tinha criado todos os seres e, uma vez que era perfeito, tudo o que criava era perfeito também, pelo que as espécies foram colocadas no mundo já adaptadas ao ambiente onde foram criadas, e permaneceram imutáveis ao longo dos tempos; os filósofos, embora também apoiassem a criação das espécies por Deus, acrescentavam que, quando se verificava uma imperfeição no mundo vivo, esta devia-se ao ambiente, que era corrupto e mutável, portanto imperfeito.
    Assim, e segundo esta teoria, o aparecimento de novas espécies eram impensável, bem como a extinção de outras.
  • Catastrofismo:
    É uma corrente de pensamento que defendia que as alterações que ocorriam no nosso planeta se deviam à ocorrência de grandes catástrofes naturais (dilúvio ), as quais, provocavam a extinção da fauna e da flora existente, que levavam a extinção de seres vivos. A estes periodos de extinção seguir-se-iam periodos de estabilidade em que uma nova flora e fauna voltariam a ocupar a superficie terrestre, e consequantemente outras especíes existentes iriam povoar esses locais desabitados. O seu principal defensor foi Georges Cuvier (século XVIII ).

Apesar da força das ideias fixistas, no século XIX, surge o evolucionismo(também chamado transformismo ou teoria da evolução), que consiste em admitir que as espécies não são imutáveis e que sofrem modificações ao longo do tempo de forma lenta e gradual.
Presente desde a Antiguidade, inquietando espíritos mais avisados (como Anaximandro, Tales e até Aristóteles), a tese da evolução dos seres vivos só se conseguiu impor com o advento da paleontologia e dos trabalhos de Lamarck e de Darwin no século XIX.

Até ao século XVIII, o criacionismo reinou sem discussão, ainda que Lineu, na sua classificação natural das espécies, tenha deixado algo em aberto quanto a uma explicação. Lamarck é, de facto, o primeiro evolucionista, considerando que o meio determina e modela os organismos (Filosofia Zoológica, 1809). A partir desta ideia, o naturalista inglês Charles Darwin, depois de uma viagem à costa ocidental da América do Sul e de um conjunto de observações efectuadas, estabelece como factor da evolução a selecção natural das espécies, pela qual todos os seres vivos são o resultado de uma longa série de transformações que conduziram primeiro ao aparecimento e depois à diversificação das espécies através da filiação e das formas de vida elementares. Esta teoria foi expressa no seu livro Da Origem das Espécies por Via da Selecção Natural (1859) e logo desenvolvida por outros estudiosos europeus, como Haeckel.

Lamarckismo

Pequena explicação da sua vida e obra:

Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck (Bazentin, 1 de agosto de 1744 — Paris, 28 de dezembro de 1829) foi um naturalista francês, originário da baixa nobreza, pertenceu ao exército, interessou-se por história natural e escreveu uma obra de vários volumes sobre a flora da França. Isto chamou a atenção do Conde de Buffon que o indicou para o Museu de História Natural de Paris. Depois de ter trabalhado durante vários anos com plantas, Lamarck foi nomeado curador dos invertebrados (mais um termo introduzido por ele), e começou uma série de conferências públicas. Antes de 1800, ele era um essencialista que acreditava que as espécies eram imutáveis. Mas graças ao seu trabalho sobre os moluscos da Bacia de Paris, ficou convencido da transmutação das espécies ao longo do tempo, e desenvolveu a sua teoria da evolução (apresentada ao público em 1809 na sua Philosophie Zoologique).

Segundo as suas ideias, o meio é agente causador das modificações ou seja, uma alteração do meio provoca nos seres vivos o aparecimento de novas características que lhes permitem a adaptação a esse ambiente.
Para explicar a existência da evolução ele estabeleceu 2 leis:

  • Lei do uso e desuso - Segundo o autor, a função faz o órgão, isto é, se ocorre uma mudança brusca no ambiente, e o indivíduo passa a utilizar muito um determinado órgão, então esse órgão vai desenvolver-se, tornando-se maior, mais forte ou mais sensível. Caso o indivíduo deixe de utilizar esse órgão, então vai ocorrer a sua atrofia. É isto que explica e lei do uso e do desuso: se o ambiente faz com que haja a necessidade do desenvolvimento de certo órgão, ou vice-versa, vai ocorrer o desenvolvimento ou atrofia desse órgão.
  • Lei da herança de caracteres adquiridos - Esta lei diz que os órgãos que se adaptaram em determinado indivíduo são transmitidos geneticamente. Assim, todos os indivíduos, desde que necessitem, sofrem alterações que transmitem aos descendentes. Deste modo, a transmissão genética dos caracteres adquirido leva à evolução da espécie em direcção à perfeição,relativamente aos factores ambientais. Isto equivale a dizer que a finalidade faz o órgão - lei da adaptação.

    Um exemplo da lei da herança dos caracteres adquiridos é o caso das características adquiridas por um jogador de futebol, que segundo a perspectiva Lamarckista, daria origem a crianças com a musculatura das pernas bem desenvolvidas, pois o progenitor ao jogar futebol, exercitou esses músculos que hipertrofiaram.


Apesar de a lei do uso e do desuso estar parcialmente correcta, as alterações que ocorrem a nível somático (do corpo) não são transmitidas geneticamente, pelo que a lei da herança dos caracteres adquiridos está comprovada como sendo errada, uma vez que as únicas alterações que são transmitidas à descendência são as que ocorrem nos gâmetas, ou células sexuais, mas que não se manifestam no progenitor.
Assim, é de fácil verificação para nós, que Lamarck estava errado em vários pontos da sua teoria, mas que no entanto a sua teoria tem um grande valor visto ter sido o primeiro a falar de adaptação, mesmo tendo errado os meios pelos quais esta ocorria.
Lamarck foi bastante criticado na sua altura devido à ideia que transmitia, de que a evolução era o caminho para a perfeição das espécies, tendo assim um objectivo, mas ficou bastante conhecido como sendo o primeiro cientista que tentou explicar a evolução, sem recorrer a ideias criacionistas.

Darwinismo:

Pequena explicação da sua vida e obra:

Charles Robert Darwin (Shrewsbury, 12 de Fevereiro de 1809 — Downe, Kent, 19 de Abril de 1882) foi um naturalista britânico que começou a interessar-se por história natural na universidade enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia.
A sua viagem de cinco anos a bordo do Beagle e escritos posteriores trouxeram-lhe reconhecimento como geólogo e fama como escritor. Suas observações da natureza levaram-no ao estudo da diversificação das espécies e, em 1838, ao desenvolvimento da teoria da Seleção Natural. Consciente de que outros antes dele tinham sido severamente punidos por sugerir ideias como aquela, ele apenas as revelou a amigos próximos e continuou a sua pesquisa tentando antecipar possíveis objecções. Contudo, a informação de que Wallace tinha desenvolvido uma ideia similar forçou a publicação conjunta da teoria em 1858.
Surgiu assim o seu livro de 1859, "A Origem das Espécies" onde introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de selecção natural. Esta se tornou a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza. Ele ingressou na Royal Society e continuou a sua pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre plantas e animais, incluindo a espécie humana.

Factores que influenciaram Darwin na formulação da sua teoria:

Dados Biogeográficos
Darwin era fixista e acreditava que cada espécie tinha sido criada para ocupar um determinado local. Por isso supôs, que a fauna e a flora das ilhas galápagos deveriam ser semelhantes entre si, por se tratarem de ambientes semelhantes.
No entanto, constatou que as espécies de Cabo Verde (arquipélago) eram semelhantes às da Costa africana, mas diferentes das espécies das Galápagos (arquipélago).
--> A explicação encontrada por Darwin para esta situação foi a de que as espécies dessas ilhas eram mais parecidas com as do continente por partilharem um ancestral mais recente, logo as semelhanças seriam resultado de uma descendência comum.
Nas Galápagos, ao analisar tentilhões, Darwin apercebeu-se que estes eram diferentes de ilha para ilha. Mas apesar dessas diferenças apresentavam grandes semelhanças entre si. Também eram parecidos aos da costa americana.
--> Portanto deveriam ter uma origem comum. As condições existentes em cada ilha condicionariam, então, a evolução de uma espécie de tentilhão, conduzindo à diversidade observada.
Mas não o observou somente com os tentilhões. Também com as tartarugas se passava o mesmo.

Dados geológicos
Também a leitura da obra de Charles Lyell, mais especificamente, a Teoria do Uniformitarismo (princípio das causas actuais e gradualismo) influenciou Darwin: assim como acontecia com os fenómenos geológicos, também as espécies teriam evoluído lenta e gradualmente, modificando as características presentes nalgumas espécies. Os fósseis e fenómenos vulcânicos que Darwin tinha observado, contribuíram para a aceitação desta teoria por parte dele, assim como a idade da Terra estimada na altura (vários milhões de anos), que era considerada suficiente para permitir essa evolução lenta e gradual.

Dados demográficos
Num estudo demográfico de Thomas Malthus, tinha sido determinado que a população humana tinha a tendência de crescer geometricamente (progressão geométrica), ao passo que os recursos alimentares cresciam segundo uma progressão aritmética.
--> No entanto os factores externos poderiam condicionar o crescimento da espécie.
Darwin transpôs esta teoria para os animais em geral. Assim admitia que apesar da tendência de crescimento das populações ser geométrica, na realidade isso não se verificava. Isto seria devido a uma série de factores exteriores: condições climáticas, escassez de alimento, competição, doenças, etc.
Darwin tinha verificado, por experiência própria, que a selecção artificial, recorrendo a cruzamentos controlados, permitia a selecção de determinadas características, ao seleccionar progenitores com as características pretendidas. Seria, então, mais provável que os descendentes também as apresentassem, o que se tornaria mais visível com o passar das gerações. Darwin transportou esse conceito de selecção para a Natureza, passando a chamá-la de selecção natural.
--> Assim, consoante os factores ambientais, vão sobrevivendo e reproduzindo-se os indivíduos com maior capacidade de sobrevivência naquelas condições, os mais aptos. No decorrer do tempo e das gerações, as modificações vão-se tornando mais visíveis, no contexto da população.

Foi com base nestes pressupostos que Darwin propôs uma teoria evolucionista.

Os conceitos essenciais do Darwinismo:

  • selecção natural,
  • variabilidade intra-específica,
  • luta pela sobrevivência,
  • sobrevivência diferencial,
  • reprodução diferencial.

O Darwinismo assenta assim nos seguintes prossupostos:

  • Os indivíduos de uma determinada espécie apresentam variabilidade das suas características (cor, forma, tamanho, etc.) – Variabilidade intra-específica.
  • As populações têm tendência a crescer segundo uma progressão geométrica, produzindo mais descendentes do que aqueles que acabam por sobreviver.
  • Entre os indivíduos de uma determinada população estabelece-se uma luta pela sobrevivência, devido à competição pelo alimento, pelo espaço e outros factores ambientais. Assim, em cada geração, um número significativo de indivíduos é eliminado.
  • Alguns indivíduos apresentam características que são favoráveis à sua sobrevivência nomeio em que se encontram. Os indivíduos que não apresentarem características vantajosas, resultantes da variação natural, vão sendo progressivamente eliminados. Assim, ao longo de gerações, a Natureza selecciona os indivíduos mais bem adaptados às condições ambientais, ocorrendo a sobrevivência dos mais aptos.
  • Os indivíduos detentores de variações favoráveis e, por isso mais bem adaptados, vivem durante mais tempo, reproduzem-se mais e, assim, as suas características são transmitidas à geração seguinte.
  • A reprodução diferencial permite, assim, uma lenta acumulação de determinadas características que, ao fim de várias gerações,conduz ao aparecimento de novas espécies.

Darwin nunca conseguiu explicar a razão para as variações das características entre os indivíduos de uma população.
O que Darwin não conseguiu explicar: porque existiam variações entre os indivíduos de uma determinada espécie e como eram transmitidas as características aos descendentes.

Lamarckismo x Darwinismo
O lamarckismo admite que características novas são adquiridas por imposição do ambiente, enquanto o darwinismo considera que as características já existentes são apenas selecionadas pelo ambiente. É na influência do ambiente que resiste a maior diferença entre as duas idéias. Entretanto, o darwinismo clássico é considerado incompleto, por não explicar as causas das variações existentes entre os componentes de uma certa população.
Explicação para a morfologia actual do flamingo de acordo com as 2 teorias:

Lamarckismo:
O flamingo alimenta-se geralmente a borda da água, mas quando o alimento escasseia tem de recorrer as águas mais profundas.Assim o esticar permanente das patas para chegar aos alimentos criou a necessidade de aumentar o tamanho dos músculos e dos ossos destes órgãos. Foram surgindo indivíduos com as patas cada vez mais longas e esta característica foi transmitida aos descendentes.
Darwinismo:
Existem nas populações de flamingos variações naturais no tamanho das patas, que passam ao longo das gerações. Quando o alimento escasseia estes animais têm de recorrer a águas mais profundas. Assim, os flamingos com patas mais desenvolvidas (melhor adaptados) tinham acesso mais fácil ao alimento. Estes indivíduos foram-se tornando mais abundantes que os de patas mais curtas, que acabaram por desaparecer.
Sites auxiliares:
http://www.infopedia.pt/$evolucionismo (definição de evolucionismo)
Deixo aqui também os sites dos vídeos dos colegas de 12º Ano que estão a participar no projecto " Na senda de Darwin"

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