sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ocupação antrópica e problemas de ordenamento - Zonas Costeiras


Zonas costeiras

As zonas litorais constituem um valioso recurso natural, insubstituível e não-renovável, do qual o Homem obtém, por exemplo, alimentos e recursos minerais, para além de serem importantes locais de lazer e turismo.
O mar é o receptor final dos sedimentos gerados no continente e constantemente drenados para as bacias oceânicas. Calcula-se que apenas 10% dos sedimentos depositados no mar sejam efectivamente produzidos pelo próprio mar.
Nas regiões costeiras, onde as massas rochosas, estratificadas ou não, penetram na água com forte inclinação, proporcionam-se as condições para a formação de escarpados. Com o decorrer dos tempos geológicos, regiões costeiras podem afundar-se ou, por outro lado, as águas marinhas elevarem-se e inundarem regiões interiormente emersas.
Na linha de costa, existe sempre uma interacção de forças destrutivas, resultado da meteorização, erosão e, por outro lado, acções construtivas, por acumulação de detritos.
A linha de costa estabelece a transição entre os meios continentais e oceânicos.
A faixa costeira mundial possui 500.000km, onde habita 80% da população mundial.

Evolução do Litoral

No entanto, estas zonas não são estáticas, mas muito dinâmicas. O litoral evolui, algumas formas modificam-se, mudam de posição, e outras aparecem e desaparecem. Actualmente, a dinâmica da faixa litoral é condicionada pela intervenção de fenómenos naturais e antrópicos.

Processos naturais:
  • Alternâncias: transgressões/regressões nível do mar e glaciação e interglaciação;
  • Movimentos das placas tectónicas;
  • Deformação margens.

Processos antrópicos:

  • Efeito de estufa: temporais e temperatura;
  • Ocupação da faixa litoral com construções;
  • Diminuição da quantidade de sedimentos, devido à construção de barragens e/ou exploração de inertes nos rios;
  • Destruição de defesas naturais, como dunas e vegetação costeira.

Fenómenos Naturais

De entre os fenómenos naturais, aos quais o homem é completamente alheio e que, de uma maneira geral, não pode contrariar, anular ou modificar, destacam-se:
-> alternância entre regressões e transgressões marinhas, como a subida e a descida do nível médio da água do mar;
-> existência de correntes marinhas litorais variadas que, ao provocarem a erosão, o transporte e a deposição de sedimentos, condicionam a morfologia da costa;
-> a deformação das margens dos continentes, como resultado de movimentos tectónicos, que pode provocar a elevação ou o afastamento das zonas litorais.


Regressões e Transgressões marinhas. O que são?

A alternância de períodos glaciáricos e de períodos interglaciários ocorridos no planeta tiveram como consequência indirecta a modificação das linhas de costa, uma vez que durante os períodos mais frios (glaciações) uma quantidade importante de água é transferida do domínio oceânico para as calotes polares, ocorrendo uma diminuição do nível médio das águas do mar e um fenómeno inverso durante o período interglaciário. Quando se verifica o recuo do mar, diz-se que ocorreu uma regressão marinha.

Na imagem seguinte podemos observar uma sequência normal onde o tamanho do grão diminui da base para o topo, uma vez que a energia do meio vai também diminuindo. Trata-se de uma transgressão marinha, situação esta, resultante de um aumento do nível do mar. Numa sequência inversa sucede o contrário com aumento do tamanho do grão da base para o topo, regressão marinha. No gráfico da esquerda podemos observar uma tendência nos últimos milhões de anos para uma natural subida do nível do mar.



O aumento da temperatura média global do planeta (períodos interglaciários) vai provocar quer a expansão térmica dos oceanos, quer a fusão das massas de gelo, o que origina um maior volume de água. Esta situação pode levar a uma subida do nível médio das águas e, consequentemente, ao avanço do mar relativamente à linha de costa, ultrapassando o território onde se encontrava anteriormente a faixa litoral. Este tipo de fenómeno denomina-se transgressão marinha.



Devido às variações do nível médio das águas do mar com origem em fenómenos de glacioeustatismo, podem observar-se em certos locais do litoral níveis de praias elevados, que correspondem a vestígios de antigas praias, relacionadas com níveis do mar superiores aos actuais.
Estes depósitos de sedimentos litorais são denominados terraços marinhos ou "praias levantadas", podendo, em muitos casos, ser considerados como testemunhos das oscilações do nível das águas do mar causadas pelas glaciações como as que ocorreram, por exemplo, durante o Pleistocénico.


Características geológicas da acção do mar:


Formas de Erosão e Formas de deposição

As zonas costeiras ou zonas da orla marinha caracterizam-se por uma intensa actividade geológica provocada pelo mar. O movimento das ondas, a subida e descida rítmica do nível das águas resultantes das marés e as correntes marinhas resultantes do movimento das águas de uns locais para os outros da superfície da Terra provocam um profundo desgaste do material da superfície continental em determinadas zonas costeiras e a sua deposição noutros locais, por vezes muito distantes da sua origem.



A acção do mar sobre o litoral é essencialmente mecânica e designada por abrasão marinha. A abrasão é caracterizada por um desgaste provocado pelo rebentamento das ondas nas rochas, sendo esta particularmente intensa quando as ondas transportam partículas que são atiradas contra as rochas. Origina-se assim, um pequeno escarpado nas rochas duras, formando-se na sua base, uma pequena plataforma rochosa que se inclina em direcção ao mar, situando-se abaixo do nível das águas.
A presença de um escarpado elevado na linha de costa pode originar, por escavação das ondas, plataformas com solo rochoso na base do escarpado, que se denominam plataformas de abrasão.

A erosão e a deposição de sedimentos conduzem a formas de relevo características, das quais se salientam:

  • as praias resultantes da acumulação de sedimentos de dimensões variadas, a grande maioria dos quais de origem fluvial. Estes locais impedem o avanço do mar e constituem ecossistemas com grande diversidade.
  • as arribas, resultantes da intensa erosão marinha. As arribas são faixas de litoral escarpado, muito íngreme, constituídas por material rochoso consolidado e com escassa cobertura vegetal, onde o efeito da erosão marinha se faz sentir de forma intensa.

A natureza do material rochoso, o seu grau de dureza e compactação, a orientação e posição dos estratos condicionam a velocidade da abrasão da arriba.

As vagas, desencadeadas por acção do vento, transmitem até ao litoral a energia que dele recebem e têm a sua acção erosiva grandemente potenciada pelo efeito abrasivo dos materiais (areias, seixos, blocos) que põe em movimento. Em resultado desta acção formam-se os litorais de erosão, ou catamórficos, caracterizados por arribas, ou falésias alcantiladas, que recuam à medida que aumenta a plataforma litoral ou de abrasão marinha. Deste recuo restam como testemunhos pontas rochosas, promontórios ou cabos escarpados, muitas vezes prolongados mar adentro por pontuações igualmente rochosas (ilhéus, baixios, escolhos, abrolhos, calhaus, pedras, etc., nos diversos modos de dizer locais), com destaque para a Costa Vicentina e para os cabos da Roca, de S. Vicente, de Sagres e do Carvoeiro, com a conhecida e elegante Nau dos Corvos.


Quando é o mar que recua, o litoral diz-se anamórfico ou de acumulação. Têm aqui lugar a praia, em geral arenosa (mas às vezes cascalhenta), e as dunas. Na sequência desta regressão do mar, a arriba fica liberta da erosão das vagas, passando a evoluir em ambiente subaéreo, até adquirir um perfil de equilíbrio ditado pela sua natureza e pelas condições climáticas ambientais. Facilmente reconhecíveis na paisagem litoral, estes testemunhos de antigos litorais são considerados arribas fósseis.



Uma das maiores formas através das quais a água (rio ou mar) desgasta a rocha é por abrasão lenta. A areia e os calhaus transportados pelo rio geram uma acção trituradora que consegue desgastar até a rocha mais dura. No fundo de alguns rios, os calhaus e os seixos encontram-se em rotação no interior de cavidades no fundo do leito, como se de uma misturadora se tratasse, aprofundando-as e alargando-as. Estas cavidades são denominadas de marmitas de gigante e encontram-se em todos os cursos de água e também junto ao mar, na plataforma de abrasão, embora resultem mais do abatimento de algares do que da própria acção trituradora dos calhaus e seixos. Quando a água baixa, podemos observar estes calhaus e areias depositados no fundo das marmitas de gigantes expostas.


Formas de Deposição

As formas de acumulação de sedimentos ao longo das costas incluem praias, restingas, ilhas-barreira, tômbolos.

Nas praias, com acumulações predominantemente de areias de grão fino e grosso, o movimento oscilatório das ondas marinhas provoca como que ondulação dos materiais arenosos. Como já referido, as praias são constituídas por acumulação de materiais transportados pelo mar, resultando de uma interacção entre a litologia, a forma da costa e a dinâmica das ondas. Os materiais detrítícos são submetidos a uma selecção granulométrica, à medida que se afastam do litoral. Assim, os materiais de maior dimensão, como blocos, seixos e areias, são transportados e atirados para a praia, predominantemente, por rolamento e saltação.

Nas praias podem ocorrer lagunas ou mares temporários e elevações. As costas apresentam um perfil típico, com cristas e patamares que se relacionam com os diferentes níveis de marés. As costas que assim se apresentam designam-se terraços marinhos e estão relacionadas com anteriores níveis do mar, no Quaternário. É de notar que, nos tempos actuais, não são de facto praias, pois já não são submetidas à acção das ondas e das correntes, embora sejam erodidas e destruídas por outros agentes.


As ilhas-barreira estabelecem-se com a formação de um cordão de areia paralelo à costa e com instalação de uma laguna, a partir do densenvolvimento de cordões nos estuários, que levam a formação de lagunas.

As lagunas são um dos tipos de ambientes na interface terra-mar. As lagunas ou bacias parálicas são entidades deprimidas, geralmente pouco profundas, e parcialmente fechadas ao mar por uma barreira. Um tal obstáculo pode ser de areia, os mais comuns, recifal, nos litorais intertropicais ou, mais raramente, rochoso.
A comunicação com o mar, temporária ou permanente, é feita através de vaus, que, no caso das barreiras arenosas, podem fechar e abrir ou migrar para um lado ou para outro.
Na costa de Portugal continental, desenvolvem-se extensos cordões litorais, como, por exemplo, em Faro-Olhão, formaram-se cordões litorais, que acabaram por levar à formação de uma laguna e não de uma "ria".


Na costa, podem surgir formações resultantes da acumulação de materiais detríticos a ligar a praia litoral a uma ilha. Designa-se por tômbolo uma formação nessas condições.


Na costa portuguesa, observam-se restingas ou cabedelos como na foz do rio Douro. As restingas ou cordões litorais caracterizam-se pela acumulação de areia ligada à faixa litoral, por uma das suas extremidades e com a outra livre.


Combate à erosão do litoral:

O homem, provoca fenómenos que se fazem sentir no litoral, provocando uma consequente erosão no mesmo.
De entre estes fenómenos salientam-se:

  • O agravamento do efeito de estufa provocado pelo excesso de CO2 e outros gases em consequência da queima de combustíveis fósseis e da desflorestação. Este incremento na quantidade de gases provoca o aumento da frequência e intensidade dos temporais e o aumento da temperatura do nosso planeta, como consequente fusão das massas geladas e a expansão térmica da água dos oceanos.
  • A ocupação da faixa litoral com estruturas de lazer e de recreio, bem como a implementação de estruturas de pesadas de engenharia;
  • A diminuição da quantidade de sedimentos que chegam ao litoral em consequência da construção de barragens nos grandes rios;
  • A destruição de defesas naturais, como a destruição das dunas devido ao pisoteio, a construção de habitações, o arranque da cobertura vegetal e a extracção de inertes para a construção civil.

Assim para combater a erosão litoral são tomadas medidas como:

  • Construção de obras transversais como os esporões e obras paralelas à linha de costa como os paredões, que são obras aderentes, ou destacadas como os quebra-mares;
  • Estabilização de arribas;
  • Alimentação artificial das praias com inertes;
  • Recuperação de dunas.

Obras de “protecção do litoral”:

Essas obras são de três tipos:

  • obras transversais à linha de costa, como os esporões;
  • construções paralelas aderentes à linha de costa, como os paredões;
  • destacadas, como os quebra-mares.

Essas construções, de que se destacam os esporões e os paredões, destinam-se a evitar o efeito abrasivo sobre a linha de costa (paredões) ou o arrastamento de sedimentos e areias (esporões), em determinados locais da costa, para protecção de pessoas e bens.


Infelizmente, estas obras são limitadas no tempo e no espaço, uma vez que se verifica a acumulação de sedimentos transportados pelo mar num dos lados da estrutura e a sua erosão do lado oposto, ou seja a construção destas obras protegem uns locais mas agravam a situação nas zonas costeiras próximas desses locais, conduzindo à necessidade de novas medidas de protecção nessas zonas, numa espiral infindável de intervenções de protecção. Muitos geólogos e organizações tem a opinião de que seria mais benéfico reduzir ou acabar com este tipo de construções, visto que o Homem deve respeitar a dinâmica existente no litoral.

Na imagem em A observa-se um paredão, em B uma série de esporões e em C um quebra mar.

Outras medidas como a recuperação de dunas e a alimentação artificial de praias permitem uma protecção mais eficiente e prolongada.
De forma a tomar as melhores medidas para combater a erosão litoral que se faz sentir é necessário um ordenamento cuidado da costa permitindo uma gestão eficaz dos recursos de forma sustentada e duradoura. Em Portugal, existem os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) que tem como objectivos: identificar as áreas de risco potencial, promover a reabilitação das áreas afectadas, requalificar as áreas balneares, propor medidas correctivas e estabelecer regras para a utilização da orla costeira.


VIDEO:

Extraído do site http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/Home/geologia-problemas-e-materiais-do-quotidiano/zonas-costeiras, por Nuno Correia, Com adaptações.

Sites auxiliares:
http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/Home/geologia-problemas-e-materiais-do-quotidiano/zonas-costeiras
http://estragodanacao3.blogspot.com/2007/06/zonas-costeiras.html (zonas costeiras - Informaçao sobre Portugal)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_costeira
http://campus.fct.unl.pt/afr/ipa_9899/grupo0025_ordenamento/index.html ( destruição da Orla Costeira Portuguesa)

RESUMO

Definição de zona costeira:

A zona costeira ou faixa litoral corresponde à zona de transição entre o domínio continental e o domínio marinho. É uma faixa complexa, dinâmica, mutável e sujeita a vários processos geológicos. A acção mecânica das ondas, das correntes e das marés são importantes factores modeladores das zonas costeiras, cujos resultados são formas de erosão ou formas de deposição.

As formas de erosão resultam do desgaste provocado pelo impacto do movimento das ondas sobre a costa - abrasão marinha -, sendo mais notória nas arribas. As formas de deposição são consequência da acumulação dos materiais arrancados pelo mar ou transportados pelos rios, quando as condições ambientais são propícias. Resultam praias ou ilhas-barreiras.
O dinamismo elevado característico das zonas costeiras traduz-se numa constante evolução destas áreas. Algumas formas modificam-se, mudam de posição, umas desaparecem e outras aparecem.

A zona costeira é um sistema que se encontra num equilíbrio dinâmico, que resulta da interferência de inúmeros factores, quer naturais quer antrópicos.
Dos fenómenos naturais que interagem com a dinâmica das zonas costeiras podem referir-se a alternância entre as regressões e transgressões marinhas, a alternância entre períodos de glaciação e interglaciação e a deformação das margens dos continentes.
Entre os factores antrópicos que afectam a dinâmica das zonas costeiras, destacam-se:
- o agravamento do efeito de estufa;
- a ocupação, muitas vezes excessiva, da faixa litoral;
- a diminuição de sedimentos que chegam ao litoral pela construção de barragens nos grandes rios;
- a destruição de defesas naturais, que resulta do pisoteio das dunas, da construção desordenada, do arranque da cobertura vegetal e da extracção de inertes.
A acção dos fenómenos naturais e antrópicos sobre a zona costeira acelera o processo de erosão dos litorais.

Site de vídeo de regressão e transgressão (inglês):
http://www.wwnorton.com/college/geo/earth/flash/7_2.swf

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ocupação antrópica e problemas de ordenamento - Bacias Hidrógraficas

Antes de avançar para este tema é importante a revisão de um conceito do 10º ano, que ajudará a compreender melhor o que se segue.

Hidrosfera: A presença de água líquida abundante na Terra é uma das características que faz dela um planeta especial. A hidrosfera é constituída pelos reservatórios de água que existem na Terra: oceanos, rios, lagos, glaciares, calotes de gelo e águas subterrâneas. O volume da água correspondente a cada reservatório é muito diferente.
Alguns autores consideram que as calotes de gelo, os glaciares e outras superfícies geladas formam um subsistema mais restrito, a criosfera.
Os oceanos representam os maiores reservatórios de água (97,2%). Isto significa que os reservatórios de água doce, os mais importantes para os seres vivos, para a agricultura e para a indústria, representam, apenas, uma pequena percentagem. O maior reservatório de água doce (74%) encontra-se gelado, pelo que a percentagem de água doce disponível para os seres vivos é uma fracção muito serve pequena do subsistema.
A água movimenta-se na Natureza passando sucessivamente de um reservatório a outro, como já sabe. Esse movimento faz parte do ciclo hidrológico. Os grandes motores do ciclo hidrológico são a energia solar e a força gravítica.

Comprendendo este conceito, será mais fácil a compreensão da matéria que se segue.

A ocupação antrópica do território dá-se devido ao crescimento da população humana que tem como consequência uma ocupação de grandes zonas da superfície terrestre, que altera as paisagens naturais existentes. Para evitar que esta ocupação antrópica se acentue, ou seja para que os impactos ambientais causados pelas acções humanas sejam reduzidos, é necessário definir regras de ordenamento do território.
Para além dos sismos e vulcões, e de acordo com as características geológicas e climáticas de cada região, existem situações muito perigosas para o Homem - riscos geomorfológicos:

- as cheias, as construções de barragens, a extracção de inertes e a erosão fluvial, associadas às bacias hidrográficas;
- a pressão urbanística e a erosão costeira, associadas às zonas costeiras;
- os movimentos de massa e a erosão das vertentes, associados às zonas de vertente.

Bacias hidrográficas
Um Rio é um curso de água, superficial e regular que pode desaguar num outro rio, num lado, ou no mar, nascendo a montante e desaguando a jusante.

Perfil transversal de um rio

Existem 3 "tipos" de leito de um rio (espaço que pode ser ocupado pelas águas), nomeadamente o leito aparente, o leito de inundação e o de estiagem.
  • Leito do rio aparente/normal – terreno ocupado, normalmente, pelas águas.
  • Leito de cheia/inundação – espaço ocupado pelas águas em época de cheias, quando a pluviosidade é muito abundante.
  • Leito de seca/estiagem – zona ocupada pelas águas quando a quantidade destas diminui, por exemplo, durante o verão.

Os rios possuem margens que são as faixas de terreno contíguas ao leito do rio.
Os rios incluem-se em:
  • Redes hidrográficas: conjunto de todos os cursos de água, confluentes, de uma determinada região.
  • Bacias hidrográficas: área drenada por uma determinada rede hidrográfica. Imagem da rede e da bacia hidrográfica do Mississipi

Perfil longitudinal de um rio

Um grande rio que desagua no mar tem no nível médio das águas do mar o seu nível base em função do qual regula o seu perfil. Pelo facto deste nível condicionar toda a rede fluvial dos continentes chama-se nível de base geral. O ponto de confluência de dois cursos de água funciona para o afluente como nível de base local. Acidentes como barragens, naturais ou artificiais, são responsáveis pelo mesmo efeito regularizador dos troços que ficam a montante do nível de base
O perfil transversal do rio também estabelece o seu estádio de evolução. À medida que o rio se vai aproximando do seu perfil de equilíbrio, a erosão vertical ou escavamento do leito vai diminuindo e dando lugar a um alargamento do rio e um aumento da sedimentação.
A regularização do perfil faz-se da foz (jusante) para a nascente (montante). As irregularidades vão desaparecendo, os rápidos recuando, o mesmo sucedendo às cabeceiras que vão penetrando na montanha. Esta progressão da erosão no sentido contrário ao da corrente denomina-se erosão regressiva.
São estas características geomorfológicas e geológicas que vão controlar os processos de erosão, transporte e sedimentação que vão ocorrer ao longo do curso.

Evolução de uma bacia hidrográfica

Ao longo dos tempos, a acção erosiva dos cursos de água provoca alterações na configuração da própria bacia hidrográfica.


Inicialmente o curso de água instala-se numa superfície recentemente formada, aproveitando os desníveis do relevo (A). Gradualmente, escava um vale mais fundo e abre novos vales (B). Começa a formar-se uma planície aluvial , devido à acumulação de sedimentos - materiais transportados pelo rio e resultantes do desgaste a montante (C). A continuação deste processo origina a formação de planícies aluviais nos vales de alguns afluentes, o alargamento da planície principal e a formação de meandros - Curvas no leito do rio formadas pela maior acumulação de sedimentos na margem onde a corrente tem menor velocidade (D).

A evolução das bacias hidrográficas também é influenciada pela alteração do nível médio das águas do mar:
- O recuo do mar aumenta a velocidade e o poder erosivo dos cursos de água, que vão aprofundar os vales e talhar outros novos. Nas novas vertentes, ficam terraços que correspondem às antigas planícies aluviais. ( E)
- O avanço do mar reduz a velocidade de escoamento dos cursos de água e a sua capacidade de desgaste e transporte, aumentando a acumulação. Dá-se, então, o alargamento das planícies aluviais e a inundação de grandes extensões de terra.


Actividade geológica de um rio:

- Erosão;
- Transporte;
- Deposição/sedimentação.

No curso superior do rio, as águas dispõem do máximo de energia e, daí, a sua grande capacidade erosiva.
No curso médio, o vale é, em geral, encaixado, predominando, aí, o transporte.
À medida que o rio se aproxima do perfil de equilíbrio, o trabalho de escavação do leito, ou seja, a erosão vertical, vai diminuindo, dando lugar à sedimentação, processo prevalecente no curso inferior. As vertentes, no entanto, continuam a recuar, alargando continuamente o vale.

Erosão - consiste na remoção progressiva de materiais resultantes da alteração das rochas do leito do rio e das margens. Resultam da alteração das rochas e, por erosão, são retirados do local. A erosão dá-se devido à pressão que a água exerce sobre as saliência do leito de das margens.

A acção erosiva de um rio depende de vários factores tais como:
a) Declive do leito do rio;
b) Caudal
c) Natureza da rocha do leito
d) Carga sólida (tipo de materiais por ele transportados)

Assim, no curso superior há predomínio da erosão sendo o perfil longitudinal irregular e o declive acentuado, com rápidos, cachoeiras, mijarelas ou misarelas e outras roturas do traçado.

Transporte - inícia-se quando os detritos (fragmentos sólidos) que constituem a carga do rio, anteriormente erodidos, são deslocados pela corrente do mesmo.
Carga sólida num curso de água:
- Materiais dissolvidos
- Materiais em suspensão
- Materiais que sofrem tracção (materiais mais pesados e grosseiros):
 Saltação
 Rolamento
 Arrastamento

Desde os materiais em suspensão, até aqueles que sofrem arrastamento e rolamento, vai diminuindo a velocidade de transporte.



Os cursos de água transportam grandes quantidades de materiais sólidos e em solução na água. Os calhaus deslocam-se por rolamento e arrastamento, as areias por saltação, e os siltes e argilas em suspensão. Ressalve-se, porém, que variações da velocidade da corrente podem modificar alguns destes comportamentos. Os materiais sólidos transportados promovem, por atrito ou atrição, a erosão dos leitos por onde circulam. Veja-se, por exemplo, o caso espectacular das marmitas de gigante, que não são mais do que buracos circulares, coma forma que o nome sugere, escavados pelo redemoinhar dos seixos que aí ficam temporariamente cativos, exercendo intensa abrasão sob o efeito da corrente, e onde eles próprios se arredondam.

Pode-se dizer, que o curso médio tem grande capacidade de transporte, declive mais suave, vales com perfil transversal em V, e perfil longitudinal mais regularizado. É neste troço que ganham importância geomorfológica os meandros encaixados cujo traçado é, muitas vezes, fixado por redes de falhas.

Assim quando as águas atingem as áreas mais baixas e aplanadas, os grandes rios podem serpentear tranquilamente em amplos meandros.
A deposição ocorre essencialmente no meio do canal (A), obrigando o curso de água a modificar a sua direcção.


Os meandros são próprios de regiões húmidas, quentes ou temperadas, de acentuada planura. De regime calmo e relativamente constante, as águas, que neles circulam, transportam pouca carga sólida, de granularidade média a fina.
Ao circular no leito curvilíneo, a corrente é bastante mais veloz (por mero efeito centrífugo) na margem côncava, exercendo aí erosão, que dizemos lateral. Pelo contrário, e pela mesma razão, a margem convexa é propícia à sedimentação, dando continuidade ao crescimento constante do corpo arenoso.

Sedimentação - capacidade de deposição dos materiais, ao longo do leito e das margens, quando diminui a capacidade de transporte do rio. A deposição dos materiais nas margens é principalmente importante quando ocorrem cheias. Na planície de inundação formam-se aluviões (depósitos de sedimentos) que tornam as margens mais férteis.

A sedimentação é influenciada pelas dimensões e peso dos detritos e pela velocidade da corrente. Os materiais mais densos e pesados são os primeiros a depositar-se, depositando-se mais para montante (na direcção da nascente) e os detritos mais leves depositam-se mais a jusante (na direcção da foz).

NOTA: A incidência dos processos de erosão, transporte e deposição é ciclíca e a sua intensidade depende de factores climatéricos (p.exemplo. pluviosidade).

O curso inferior do rio, onde predomina a sedimentação caracteriza-se por vales amplos, de vertentes suaves, afastadas e degradadas.

A deposição de materiais é importante quando ocorrem cheias, formando depósitos no leito de cheia chamados aluviões.
Em vários dos seus troços menos declivosos e, portanto, menos energéticos [mais propícios à sedimentação), e, em especial, na parte vestibular (terminal), são comuns os terraços fluviais. Estas rochas nas vertentes do vale estão muitas vezes relacionados com depósitos (aluviões) acumulados em fases anteriores do traçado, quando o leito do rio se encontrava a cotas mais elevadas, isto é, menos encaixado. A maioria dos terraços das áreas vestibulares tem l origem glácio-eustática, resultante das oscilações do nível do mar (nível de base geral) relacionadas com os períodos glaciários e interglaciários do Quaternário.


Factores de risco geológico associados às bacias hidrográficas:

- cheias;
- barragens;
- extracção de inertes.

Gestão das bacias hidrográficas:

Existem 4 planos internacionais (Minho, Tejo, Douro e Guadiana) e 11 nacionais para a gestão das bacias hidrográficas do nosso país.

Cheias – aumento do caudal dos cursos de agua, com elevação e extravase do leito normal e inundação das áreas circunvizinhas. Precipitações anormais, degelos ou rupturas são causas frequentes.

Prevenção de danos relacionados com cheias:
- Regulamentação da construção e ocupação de leitos de cheia.
- Construção de barragens e canalizações.

Barragem - é uma barreira artificial, feita em cursos de água para a retenção de grandes quantidades de água.

Vantagens:
  • Regularizam o caudal, evitando cheias ;
  • Provocam retenção de água à formam albufeiras a montante da barragem, que regularizam o caudal a jusante da barragem;
  • Água acumulada pode ter várias utilizações:
    - Produção de energia hidroeléctrica;
    - Abastecimento de populações;
    - Actividades de recreio;
    - Irrigação de terrenos agrícolas.

Desvantagens:

  • Deposição de materiais no fundo da albufeira à redução da capacidade de armazenamento de água; redução da quantidade de detritos debitada no mar.
  • Período de vida útil após o qual provocam problemas de segurança.
  • Impacto negativo nos ecossistemas terrestres e aquáticos.

Para tentar minimizar estes efeitos negativos, são efectuadas canalizações que regularizam, aprofundam, alargam e removem os obstáculos em determinadas zonas do leito do rio.

Extracção de inertes - consiste na remoção de detritos do leito do rio.

Consequências:

  • Desaparecimento de praias fluviais;
  • Descalçamento de pilares de pontes, podendo originar a sua queda;
  • Alterações das correntes;
  • Redução na quantidade de sedimentos que chegam ao mar.