sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ocupação antrópica e problemas de ordenamento - Zonas Costeiras


Zonas costeiras

As zonas litorais constituem um valioso recurso natural, insubstituível e não-renovável, do qual o Homem obtém, por exemplo, alimentos e recursos minerais, para além de serem importantes locais de lazer e turismo.
O mar é o receptor final dos sedimentos gerados no continente e constantemente drenados para as bacias oceânicas. Calcula-se que apenas 10% dos sedimentos depositados no mar sejam efectivamente produzidos pelo próprio mar.
Nas regiões costeiras, onde as massas rochosas, estratificadas ou não, penetram na água com forte inclinação, proporcionam-se as condições para a formação de escarpados. Com o decorrer dos tempos geológicos, regiões costeiras podem afundar-se ou, por outro lado, as águas marinhas elevarem-se e inundarem regiões interiormente emersas.
Na linha de costa, existe sempre uma interacção de forças destrutivas, resultado da meteorização, erosão e, por outro lado, acções construtivas, por acumulação de detritos.
A linha de costa estabelece a transição entre os meios continentais e oceânicos.
A faixa costeira mundial possui 500.000km, onde habita 80% da população mundial.

Evolução do Litoral

No entanto, estas zonas não são estáticas, mas muito dinâmicas. O litoral evolui, algumas formas modificam-se, mudam de posição, e outras aparecem e desaparecem. Actualmente, a dinâmica da faixa litoral é condicionada pela intervenção de fenómenos naturais e antrópicos.

Processos naturais:
  • Alternâncias: transgressões/regressões nível do mar e glaciação e interglaciação;
  • Movimentos das placas tectónicas;
  • Deformação margens.

Processos antrópicos:

  • Efeito de estufa: temporais e temperatura;
  • Ocupação da faixa litoral com construções;
  • Diminuição da quantidade de sedimentos, devido à construção de barragens e/ou exploração de inertes nos rios;
  • Destruição de defesas naturais, como dunas e vegetação costeira.

Fenómenos Naturais

De entre os fenómenos naturais, aos quais o homem é completamente alheio e que, de uma maneira geral, não pode contrariar, anular ou modificar, destacam-se:
-> alternância entre regressões e transgressões marinhas, como a subida e a descida do nível médio da água do mar;
-> existência de correntes marinhas litorais variadas que, ao provocarem a erosão, o transporte e a deposição de sedimentos, condicionam a morfologia da costa;
-> a deformação das margens dos continentes, como resultado de movimentos tectónicos, que pode provocar a elevação ou o afastamento das zonas litorais.


Regressões e Transgressões marinhas. O que são?

A alternância de períodos glaciáricos e de períodos interglaciários ocorridos no planeta tiveram como consequência indirecta a modificação das linhas de costa, uma vez que durante os períodos mais frios (glaciações) uma quantidade importante de água é transferida do domínio oceânico para as calotes polares, ocorrendo uma diminuição do nível médio das águas do mar e um fenómeno inverso durante o período interglaciário. Quando se verifica o recuo do mar, diz-se que ocorreu uma regressão marinha.

Na imagem seguinte podemos observar uma sequência normal onde o tamanho do grão diminui da base para o topo, uma vez que a energia do meio vai também diminuindo. Trata-se de uma transgressão marinha, situação esta, resultante de um aumento do nível do mar. Numa sequência inversa sucede o contrário com aumento do tamanho do grão da base para o topo, regressão marinha. No gráfico da esquerda podemos observar uma tendência nos últimos milhões de anos para uma natural subida do nível do mar.



O aumento da temperatura média global do planeta (períodos interglaciários) vai provocar quer a expansão térmica dos oceanos, quer a fusão das massas de gelo, o que origina um maior volume de água. Esta situação pode levar a uma subida do nível médio das águas e, consequentemente, ao avanço do mar relativamente à linha de costa, ultrapassando o território onde se encontrava anteriormente a faixa litoral. Este tipo de fenómeno denomina-se transgressão marinha.



Devido às variações do nível médio das águas do mar com origem em fenómenos de glacioeustatismo, podem observar-se em certos locais do litoral níveis de praias elevados, que correspondem a vestígios de antigas praias, relacionadas com níveis do mar superiores aos actuais.
Estes depósitos de sedimentos litorais são denominados terraços marinhos ou "praias levantadas", podendo, em muitos casos, ser considerados como testemunhos das oscilações do nível das águas do mar causadas pelas glaciações como as que ocorreram, por exemplo, durante o Pleistocénico.


Características geológicas da acção do mar:


Formas de Erosão e Formas de deposição

As zonas costeiras ou zonas da orla marinha caracterizam-se por uma intensa actividade geológica provocada pelo mar. O movimento das ondas, a subida e descida rítmica do nível das águas resultantes das marés e as correntes marinhas resultantes do movimento das águas de uns locais para os outros da superfície da Terra provocam um profundo desgaste do material da superfície continental em determinadas zonas costeiras e a sua deposição noutros locais, por vezes muito distantes da sua origem.



A acção do mar sobre o litoral é essencialmente mecânica e designada por abrasão marinha. A abrasão é caracterizada por um desgaste provocado pelo rebentamento das ondas nas rochas, sendo esta particularmente intensa quando as ondas transportam partículas que são atiradas contra as rochas. Origina-se assim, um pequeno escarpado nas rochas duras, formando-se na sua base, uma pequena plataforma rochosa que se inclina em direcção ao mar, situando-se abaixo do nível das águas.
A presença de um escarpado elevado na linha de costa pode originar, por escavação das ondas, plataformas com solo rochoso na base do escarpado, que se denominam plataformas de abrasão.

A erosão e a deposição de sedimentos conduzem a formas de relevo características, das quais se salientam:

  • as praias resultantes da acumulação de sedimentos de dimensões variadas, a grande maioria dos quais de origem fluvial. Estes locais impedem o avanço do mar e constituem ecossistemas com grande diversidade.
  • as arribas, resultantes da intensa erosão marinha. As arribas são faixas de litoral escarpado, muito íngreme, constituídas por material rochoso consolidado e com escassa cobertura vegetal, onde o efeito da erosão marinha se faz sentir de forma intensa.

A natureza do material rochoso, o seu grau de dureza e compactação, a orientação e posição dos estratos condicionam a velocidade da abrasão da arriba.

As vagas, desencadeadas por acção do vento, transmitem até ao litoral a energia que dele recebem e têm a sua acção erosiva grandemente potenciada pelo efeito abrasivo dos materiais (areias, seixos, blocos) que põe em movimento. Em resultado desta acção formam-se os litorais de erosão, ou catamórficos, caracterizados por arribas, ou falésias alcantiladas, que recuam à medida que aumenta a plataforma litoral ou de abrasão marinha. Deste recuo restam como testemunhos pontas rochosas, promontórios ou cabos escarpados, muitas vezes prolongados mar adentro por pontuações igualmente rochosas (ilhéus, baixios, escolhos, abrolhos, calhaus, pedras, etc., nos diversos modos de dizer locais), com destaque para a Costa Vicentina e para os cabos da Roca, de S. Vicente, de Sagres e do Carvoeiro, com a conhecida e elegante Nau dos Corvos.


Quando é o mar que recua, o litoral diz-se anamórfico ou de acumulação. Têm aqui lugar a praia, em geral arenosa (mas às vezes cascalhenta), e as dunas. Na sequência desta regressão do mar, a arriba fica liberta da erosão das vagas, passando a evoluir em ambiente subaéreo, até adquirir um perfil de equilíbrio ditado pela sua natureza e pelas condições climáticas ambientais. Facilmente reconhecíveis na paisagem litoral, estes testemunhos de antigos litorais são considerados arribas fósseis.



Uma das maiores formas através das quais a água (rio ou mar) desgasta a rocha é por abrasão lenta. A areia e os calhaus transportados pelo rio geram uma acção trituradora que consegue desgastar até a rocha mais dura. No fundo de alguns rios, os calhaus e os seixos encontram-se em rotação no interior de cavidades no fundo do leito, como se de uma misturadora se tratasse, aprofundando-as e alargando-as. Estas cavidades são denominadas de marmitas de gigante e encontram-se em todos os cursos de água e também junto ao mar, na plataforma de abrasão, embora resultem mais do abatimento de algares do que da própria acção trituradora dos calhaus e seixos. Quando a água baixa, podemos observar estes calhaus e areias depositados no fundo das marmitas de gigantes expostas.


Formas de Deposição

As formas de acumulação de sedimentos ao longo das costas incluem praias, restingas, ilhas-barreira, tômbolos.

Nas praias, com acumulações predominantemente de areias de grão fino e grosso, o movimento oscilatório das ondas marinhas provoca como que ondulação dos materiais arenosos. Como já referido, as praias são constituídas por acumulação de materiais transportados pelo mar, resultando de uma interacção entre a litologia, a forma da costa e a dinâmica das ondas. Os materiais detrítícos são submetidos a uma selecção granulométrica, à medida que se afastam do litoral. Assim, os materiais de maior dimensão, como blocos, seixos e areias, são transportados e atirados para a praia, predominantemente, por rolamento e saltação.

Nas praias podem ocorrer lagunas ou mares temporários e elevações. As costas apresentam um perfil típico, com cristas e patamares que se relacionam com os diferentes níveis de marés. As costas que assim se apresentam designam-se terraços marinhos e estão relacionadas com anteriores níveis do mar, no Quaternário. É de notar que, nos tempos actuais, não são de facto praias, pois já não são submetidas à acção das ondas e das correntes, embora sejam erodidas e destruídas por outros agentes.


As ilhas-barreira estabelecem-se com a formação de um cordão de areia paralelo à costa e com instalação de uma laguna, a partir do densenvolvimento de cordões nos estuários, que levam a formação de lagunas.

As lagunas são um dos tipos de ambientes na interface terra-mar. As lagunas ou bacias parálicas são entidades deprimidas, geralmente pouco profundas, e parcialmente fechadas ao mar por uma barreira. Um tal obstáculo pode ser de areia, os mais comuns, recifal, nos litorais intertropicais ou, mais raramente, rochoso.
A comunicação com o mar, temporária ou permanente, é feita através de vaus, que, no caso das barreiras arenosas, podem fechar e abrir ou migrar para um lado ou para outro.
Na costa de Portugal continental, desenvolvem-se extensos cordões litorais, como, por exemplo, em Faro-Olhão, formaram-se cordões litorais, que acabaram por levar à formação de uma laguna e não de uma "ria".


Na costa, podem surgir formações resultantes da acumulação de materiais detríticos a ligar a praia litoral a uma ilha. Designa-se por tômbolo uma formação nessas condições.


Na costa portuguesa, observam-se restingas ou cabedelos como na foz do rio Douro. As restingas ou cordões litorais caracterizam-se pela acumulação de areia ligada à faixa litoral, por uma das suas extremidades e com a outra livre.


Combate à erosão do litoral:

O homem, provoca fenómenos que se fazem sentir no litoral, provocando uma consequente erosão no mesmo.
De entre estes fenómenos salientam-se:

  • O agravamento do efeito de estufa provocado pelo excesso de CO2 e outros gases em consequência da queima de combustíveis fósseis e da desflorestação. Este incremento na quantidade de gases provoca o aumento da frequência e intensidade dos temporais e o aumento da temperatura do nosso planeta, como consequente fusão das massas geladas e a expansão térmica da água dos oceanos.
  • A ocupação da faixa litoral com estruturas de lazer e de recreio, bem como a implementação de estruturas de pesadas de engenharia;
  • A diminuição da quantidade de sedimentos que chegam ao litoral em consequência da construção de barragens nos grandes rios;
  • A destruição de defesas naturais, como a destruição das dunas devido ao pisoteio, a construção de habitações, o arranque da cobertura vegetal e a extracção de inertes para a construção civil.

Assim para combater a erosão litoral são tomadas medidas como:

  • Construção de obras transversais como os esporões e obras paralelas à linha de costa como os paredões, que são obras aderentes, ou destacadas como os quebra-mares;
  • Estabilização de arribas;
  • Alimentação artificial das praias com inertes;
  • Recuperação de dunas.

Obras de “protecção do litoral”:

Essas obras são de três tipos:

  • obras transversais à linha de costa, como os esporões;
  • construções paralelas aderentes à linha de costa, como os paredões;
  • destacadas, como os quebra-mares.

Essas construções, de que se destacam os esporões e os paredões, destinam-se a evitar o efeito abrasivo sobre a linha de costa (paredões) ou o arrastamento de sedimentos e areias (esporões), em determinados locais da costa, para protecção de pessoas e bens.


Infelizmente, estas obras são limitadas no tempo e no espaço, uma vez que se verifica a acumulação de sedimentos transportados pelo mar num dos lados da estrutura e a sua erosão do lado oposto, ou seja a construção destas obras protegem uns locais mas agravam a situação nas zonas costeiras próximas desses locais, conduzindo à necessidade de novas medidas de protecção nessas zonas, numa espiral infindável de intervenções de protecção. Muitos geólogos e organizações tem a opinião de que seria mais benéfico reduzir ou acabar com este tipo de construções, visto que o Homem deve respeitar a dinâmica existente no litoral.

Na imagem em A observa-se um paredão, em B uma série de esporões e em C um quebra mar.

Outras medidas como a recuperação de dunas e a alimentação artificial de praias permitem uma protecção mais eficiente e prolongada.
De forma a tomar as melhores medidas para combater a erosão litoral que se faz sentir é necessário um ordenamento cuidado da costa permitindo uma gestão eficaz dos recursos de forma sustentada e duradoura. Em Portugal, existem os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) que tem como objectivos: identificar as áreas de risco potencial, promover a reabilitação das áreas afectadas, requalificar as áreas balneares, propor medidas correctivas e estabelecer regras para a utilização da orla costeira.


VIDEO:

Extraído do site http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/Home/geologia-problemas-e-materiais-do-quotidiano/zonas-costeiras, por Nuno Correia, Com adaptações.

Sites auxiliares:
http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/Home/geologia-problemas-e-materiais-do-quotidiano/zonas-costeiras
http://estragodanacao3.blogspot.com/2007/06/zonas-costeiras.html (zonas costeiras - Informaçao sobre Portugal)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_costeira
http://campus.fct.unl.pt/afr/ipa_9899/grupo0025_ordenamento/index.html ( destruição da Orla Costeira Portuguesa)

RESUMO

Definição de zona costeira:

A zona costeira ou faixa litoral corresponde à zona de transição entre o domínio continental e o domínio marinho. É uma faixa complexa, dinâmica, mutável e sujeita a vários processos geológicos. A acção mecânica das ondas, das correntes e das marés são importantes factores modeladores das zonas costeiras, cujos resultados são formas de erosão ou formas de deposição.

As formas de erosão resultam do desgaste provocado pelo impacto do movimento das ondas sobre a costa - abrasão marinha -, sendo mais notória nas arribas. As formas de deposição são consequência da acumulação dos materiais arrancados pelo mar ou transportados pelos rios, quando as condições ambientais são propícias. Resultam praias ou ilhas-barreiras.
O dinamismo elevado característico das zonas costeiras traduz-se numa constante evolução destas áreas. Algumas formas modificam-se, mudam de posição, umas desaparecem e outras aparecem.

A zona costeira é um sistema que se encontra num equilíbrio dinâmico, que resulta da interferência de inúmeros factores, quer naturais quer antrópicos.
Dos fenómenos naturais que interagem com a dinâmica das zonas costeiras podem referir-se a alternância entre as regressões e transgressões marinhas, a alternância entre períodos de glaciação e interglaciação e a deformação das margens dos continentes.
Entre os factores antrópicos que afectam a dinâmica das zonas costeiras, destacam-se:
- o agravamento do efeito de estufa;
- a ocupação, muitas vezes excessiva, da faixa litoral;
- a diminuição de sedimentos que chegam ao litoral pela construção de barragens nos grandes rios;
- a destruição de defesas naturais, que resulta do pisoteio das dunas, da construção desordenada, do arranque da cobertura vegetal e da extracção de inertes.
A acção dos fenómenos naturais e antrópicos sobre a zona costeira acelera o processo de erosão dos litorais.

Site de vídeo de regressão e transgressão (inglês):
http://www.wwnorton.com/college/geo/earth/flash/7_2.swf

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom =)
Obrigado.