Dia notícia: Domingo, 9 de Novembro de 2008
Com o envelhecimento, a nossa capacidade reprodutiva é seriamente afectada. A própria divisão celular, necessária à concepção, está sujeita a uma maior quantidade de erros. Porém, não é só a idade da mãe que conta. Hoje sabe-se que a herança paterna não fica de fora da equação genética.
Com a alteração dos estilos de vida, a idade em que os portugueses decidem ter o primeiro filho não pára de subir. Mas se por um lado a maturidade e a ponderação económica trazem conforto às crianças, por outro, com o avançar da idade dos pais tende também a aumentar a probabilidade de os filhos nascerem com anomalias genéticas.
Ao longo dos tempos, a ciência e a medicina têm vindo a reduzir drasticamente a mortalidade e a doença de mães e bebés, tanto que, hoje em dia, uma gravidez depois dos 40 raramente constitui qualquer perigo. Até o saudável desenvolvimento dos fetos pode ser verificado através dos rastreios pré-natal. No entanto, quanto mais velhos são os pais, maior a possibilidade dos óvulos ou dos espermatozóides envolvidos na fecundação apresentarem anomalias. Normalmente, é através da mãe que surgem as maiores complicações. "De um modo geral pode dizer-se que à medida que a idade passa o risco de alterações na meiose [divisão celular] e aparecimento de número diferente de 46 cromossomas [número normal de cromossomas nas células humanas] aumenta na mulher", explica José Rueff investigador do Departamento de Genética da Faculdade de Ciências Médicas em Lisboa.
Na mulher, os oócitos (futuros óvulos) estão presentes desde o momento do seu nascimento. Depois da puberdade, amadurece por norma um óvulo por mês, preparando-se para ser fertilizado. Ora, ao fim de muitos anos os óvulos estão "velhos", condicionando uma maior possibilidade de ocorrência de erros. Ou seja, pode dar-se uma má distribuição dos cromossomas, aquando os gâmetas femininos dividem para fecundação. Um cromossoma é uma longa sequência de ADN que contém vários genes, logo, a presença de um cromossoma a mais ou a menos traz uma grande mudança na composição genética das células.
Daí que o número de abortos espontâneos e a concepção de fetos com monossomias (um cromossoma a menos) ou trissomias (um cromossoma adicional) seja mais frequente à medida que a idade da mãe aumenta. Sabemos que estamos perante uma monossomia quando temos um cromossoma a menos nas células. Porém, a única situação de monossomia compatível com a vida é uma cromossomopatia denominada síndrome de Turner, em que as raparigas nascem com menos um cromossoma X. Se bem que taxa de incidência desta monossomia não esteja relacionada com o progressivo envelhecimento dos pais. Já as trissomias estão associadas à presença de mais um cromossoma, sendo a mais conhecida a trissomia no cromossoma 21, a síndrome de Down, vulgarmente conhecido por mongolismo.
Até recentemente, ninguém associava os problemas genéticos de uma criança ao pai, mas são cada vez mais os estudos que demonstram que a contribuição masculina não pode ser retirada da equação.
De facto, a importância da influência paterna não foi antes ressalvada porque, com o avançar da idade, as modificações no esperma dos homens tendem a ser apenas ao nível dos genes e não ao nível do número de cromossomas como nas mulheres. Apesar de poderem ocorrer erros nas divisões celulares que os criam, os espermatozóides estão continuamente a ser produzidos, não tendo nascido com o homem.
Contudo, foi por não subestimar o poder da herança paterna que um estudo britânico demonstrou que pais com mais de 50 anos têm três vezes mais hipóteses de ter um filho esquizofrénico que um pai com 25 anos. Também no último número da revista Archives of General Psychiatry, surgem os resultados de uma pesquisa sueca que apontam para que filhos de pais com mais de 55 anos tenham 37% mais possibilidades de sofrer de doença bipolar. Segundo o psiquiatra José Manuel Jara, esta é uma perspectiva credível, já que a "doença bipolar é a doença psiquiátrica que tem bases genéticas maiores".
Fonte: Diário de notícias
Site da fonte:http://dn.sapo.pt/2008/11/09/sociedade/ser_apos_35_anos_aumenta_risco_anoma.html
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